quarta-feira, 22 de julho de 2009

"A construção da conhecimento sobre a escrita"

A aula do dia 14 de Julho, debateu o texto de Ana Teberosky, "A construção do conhecimento sobre a escrita”, que, na verdade, deu continuidade ao tema discutido na aula anterior, onde se apresenta as diversas formas encontradas pelos infantes para a aquisição da escrita e da leitura.
Neste texto, Teberosky, inicialmente apresenta as diversas hipóteses criadas pelas crianças para a construção da escrita.
1) A criança tenderá a separar desenhos de letras, pois para ela os textos são constituidos por letras e não por desenhos. É o momento em que a criança faz uso dos princípios de quantidade mínima (uma palavras não pode ser escrita com apenas uma letra) e o de variedade interna (as letras não se repetem e há uma certa alternância).
2) Consegue atribuir, usando a imaginação, respostas (verbalmente) a textos que lhes são oferecidos. Elas respondem a pergunta embasadas na “intencionalidade comunicativa” do texto. (Ex: observando uma palavra colada na parede, acredita que está diz exatamente parede).
3) Diferenciação de dois tipos de pergunta: “o que é?” e “o quer diz?”. A partir dos 24 meses, a criança já consegue distinguir uma boneca qualquer, de a boneca qualquer. Assim, é possível notar a sutileza da “hipótese do nome” (tudo o que está escrito é o nome de alguém ou alguma coisa) neste momento para a criança.
4) A criança elabora uma distinção acerca do que está escrito, ou seja, os nomes e do que se pode ler, que para ela seria algo relativo a interpretação elaborada a partir do que está escrito. Segundo Teberosky, este conflito entre estas duas questões se dá devido aos espaços em branco entre as palavras, o que remete as crianças a tentarem encontrar outras categorias de palavras (artigos, preposições, verbos, etc), que não poderão ser nomes, para a "leitura" do texto, mesmo que ainda não atribuam representações gráficas independentes a estas.
5) Outra hipótese está direcionada a questão do que "está escrito" e "o que se pode ler". Para a criança, por não ter consciência da organização e sonoridade gráfica, o significada das palavras dependerá do contexto. Não importa a organização das letras, mas sim o que sua interpretação atribui a esta sentença. Ela não espera e nem depende de todas as transcrições para entender ou compreender a mensagem. Assim, um texto oral para a criança serve para provocar ou sugerir uma emissão oral, mas não expressa a oração por completo.
6) Inicia a “hipótese silábica”, ou seja, a tentativa de encontrar as unidades sonoras que correspondem as letras (descobrimento das sílabas). A criança começa a vivenciar a escrita pré-silábica, silábica e alfabética. (Post anterior a este)
7) A criança consegue reproduzir narrativas verbalmente, como também pode ditá-las aos adultos, fazendo assim uma “representação da linguagem escrita”. Além disso, já distinguem diferentes gêneros textuais. Segundo Teberosky, é o momento em que “precisam fazer um esforço para apropriar-se das estruturas linguísticas e das convenções gráficas utilizadas na escrita”. (p. 58)
8) Ainda não há a compreensão da palavra, por isso, quando escrevem um texto, acabam por escrever tudo junto, pois não compreendem os espaços em branco que se sucedem entre as palavras em um texto. Não conseguem distinguir palavras gráficas de palavras orais.
Por fim, Teberosky, enfatiza que a escrita e a leitura são influenciadas pela fala. Sendo assim, não podem ser observadas nem valorizadas separadamente. Devido a isto torna-se fundamental que a realidade da criança seja levada em consideração durante este processo de assimilação da escrita e da leitura, pois suas falas embasarão seus escritos.
A autora, apresenta a perspectiva construtivista como ponto chave para esta prática, já que esta visa oferecer, uma aprendizagem que releve todo o processo de compreensão da criança, suas hipóteses e soluções, que possibilitarão ao professor não atribuir erro as escritas não convencionais, mais sim observá-las como mais um processo a ser valorizado durante a alfabetização, pois acarretará no indivíduo a curiosidade necessária para a compreensão e assimilação de um novo conhecimento.

OBS: Durante a discussão do texto em aula, refletimos sobre as formas tradicionais de ensino que ainda trabalham a escrita em um nível fonético, onde a criança é "obrigada" a escrever palavras com letras e sílabas que já aprenderam.

A imagem acima retrata bem esta afirmação, pois a criança acaba escrevendo algo sem sentido para ela, já que faz uso apenas de palavras que contenham sílabas que já domina, o que é contrário a perspectiva construtivista, que visa fazer uso de um nível global, onde todas as letras e sílabas podem ser utilizadas, possibilitando ao aluno a construção de frases significativas, independente de que nível esteja.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A escrita e a leitura das crianças segundo Emilia Ferreiro

Na aula do dia 07 de julho de 2009, o texto estudado foi “Os problemas cognitivos envolvidos na construção da representação escrita da linguagem”, de Emília Ferreiro, que tem como objetivo apresentar os modos de organização que podem caracterizar os níveis sucessivos de conhecimento, ou seja, os diversos níveis pelos quais um indivíduo antes da alfabetização passará. Vale ressaltar que apesar das diferentes questões que envolvem este tema, a autora está voltada apenas a análise da questão da relação entre as partes (sílabas) e o todo (palavras).
O primeiro ponto de discussão apresentado no texto está relacionado a percepção de que as representações alfabéticas da linguagem se sucedessem em certa ordem, já que, inicialmente, as representações são alheias ao indivíduo que tenta relacionar som e escrita; após tornam-se silábicas (com ou sem valor sonoro convencional) e finalmente alfabética, onde o domínio da escrita é “total”.
Desta forma, Ferreiro nos apresenta os quatro níveis para aquisição da escrita:
1) A sílaba é utilizada sem consciência. A criança não possui o dito “saber como”. [Nível da Garatuja]
Ex:


2) A sílaba começa a se evidenciar como indicador (Não há conexão entre sílabas). [Nível pré-silábica]
Ex:



3) A sílaba faz parte desorganizada da palavras. [Nível silábico]
Ex:



4) A sílaba já está ordenada. A palavra é escrita corretamente. [Nível alfabético]
Ex:



Durante estes níveis a criança usa de uma “lógica interna”, (2007, p. 10) para estas organizações, o que simplesmente seria a solução lógica encontrada por ela para a resolução dos problemas de leitura e escrita que se deparam. Assim, a criança inicia o processo de alfabetização. Vejamos um exemplo:
GSU (gatos)


Para escrever “gatos”, no plural a criança criou uma lógica embasada na quantitatividade, ou seja, para cada gato uma letra, o que segundo Ferreiro seria uma “representação analógica” (p. 12).
Apesar de ter uma lógica satisfatória, esta solução vai de encontro com outra hipótese muito importante e poderosa, a “hipótese da quantidade mínima” (p. 12), já que quando o nome a ser escrito estiver direcionado a um único objeto (singular), a criança não utilizará uma única letra para representar uma sequência escrita, já que para ela uma letra não é suficiente para se escrever uma palavra.
Vale ressaltar que no nível ao qual nos referimos, podemos encontrar duas distintas representações para um nome no plural. O indivíduo pode ajustar a quantidade de letrar ao número de objetos ou iniciar a escrita no singular e terminá-la no plural. No entanto, teremos o mesmo princípio em uso, já que quando iniciam uma palavra no plural uma letra basta para representar, porém no singular necessitam de mais de uma, pois de acordo com sua lógica interna não existe palavra composta de uma única letra.
Outra forma da criança representar esta questão das partes e do todo, ocorre quando a criança deixa de utilizar uma letra como sílaba e passa a utilizar duas letras independente de quais sejam, para representar uma determinada sílaba. Entretanto nestas duas questões o indivíduo ainda não tematizou (Piaget) o conhecimento, ou seja, não compreendeu a questão (tomada de consciência). Simplesmente não consegue ler.

A passagem por estes níveis gera conflitos internos na criança que para tematizar terá de conceitualizar algo que parece, num determinado momento, ilógico. Contudo, para isto a criança deverá passar por um tipo de equilibração, ou seja, momento em que ocorre a assimila acerca de algo ou alguma coisa, o que possibilita a busca por mais conhecimento. É propício enfatizar que esta modificação do pensar e compreender são mutáveis de uma criança para outra e que não dependem de classe social, que com seus recursos poderia estar proporcionando a criança um "melhor" desenvolvimento cognitivo.
Com os questionamentos que vão surgindo durante o processo, a criança vai modificando sua “hipótese silábica”, que passa a cumprir outra função, a de controladora da execução. Neste momento é perceptível que o processo de leitura e escrita vai ficando mais complexo para a criança, que agora também utiliza o princípio da “variação interna” (p. 17). As repetições de letras não são mais aceitáveis, porém este princípio não auxilia no problema da participanção destas partes para a constituição do todo.
O princípio de variação aplica-se a dois níveis diferentes: o de escrita sem repetições e ao conjunto de escritas relacionadas. É o momento em que as crianças percebem que não se pode ler coisas diferentes com séries idênticas, o que as levará a buscar diferentes letras para a conclusão da escrita proposta, no entanto, às vezes, estas possuindo um conhecimento restrito as letras do seu nome, podem encontrar dificuldades para a execução da atividade, pois partindo do ponto de vista de que agora uma letra não representará sempre a mesma sílaba, a criança iniciará uma complexa troca de posição das letras que conhece para obtenção de outra palavra:
Ex: Rian - anri - iran
Desta forma, o valor posicional determina a interpretação, já que “qualquer letra pode representar qualquer sílaba” (p.19), o que leva as crianças a encontrarem uma solução interessante para a escrita. Porém esta dedução não a possibilitará compreender o que os outros escrevem, nem a informação que recebe. Mediante esta observação, vários conflitos se apresentam e podem gerar três situações distintas na criança, segundo Piaget: o questionamento é deixado de lado; a criança pode compensá-la localmente; ou ainda pode assimilá-la por completo, sendo válido ressaltar que quando conseguem colocar em prática este última situação (assimilação) abandonam a hipótese silábica e alcançam a nível alfabético.
Ferreiro também enfatiza a questão da interpretação, que se faz presente antes mesmo do ler e escrever, e que se divide em duas razões: primeiro, a percepção de que nenhuma aprendizagem começa do zero e segundo, de que mediante o processo de leitura o leitor recorre a recursos visuais e não-visuais para obter significado. Assim, o que enfatiza que o processo de leitura é um processo de coordenação de informações vindas de diferentes partes e que no final ganham significado expresso linguisticamente.
Para as crianças as letras representam o nome do objeto a qual estão impressas. Assim, o significado do texto depende do contexto. Segundo Ferreiro, a criança cria distinções acerca da interpretação. Já que “ “o que está realmente escrito” em um texto não é considerado “o que pode ser lido”. (p. 68) A criança ao ver uma imagem contendo um pato nadando e a frase “O pato nada”, conseguem apresentar as palavras pato e água, mas não conseguem ler a frase em si. Assim, elas compreendem a imagem mas ainda não são capazes de ler o que está escrito ao lado.
A idéia de interpretação está direcionada a duas idéias, uma externa (o contexto) e outra interna ( as letras representam o nome do objeto). Porém, apesar de imutáveis durante o longo período de alfabetização, a relação entre texto e contexto passam por etapas:
O significado de um texto depende do contexto. Se colocarmos uma figura de girafa e um texto ao lado sem qualquer relação com a imagem, logo a criança dirá que está escrito girafa. Se trocarmos a figura anterior por uma de leão, porém com o mesmo texto, a resposta será “leão”. A criança neste estágio faz associação total a imagem.
Ao se estabelecer uma relação entre o texto e o contexto, o texto será modificado sempre que houver alterações no contexto. Se apresentarmos um figura de girafa com um texto qualquer, a criança responderá girafa, no entanto, se trocarmos a figura e o texto permanecer, está dirá que está escrito girafa, pois tal palavras já representou para ela “girafa” anteriormente. Contudo, vale ressaltar que se misturarmos os cartões a palavra perde o significado atribuído pela criança anteriormente, pois na verdade, esta ainda não lê apenas associa.
As propriedades do texto serão elevadas em consideração Ainda há uma dependência do contexto, porém o texto já consegue modulam interpretação. Nestas primeiras propriedades da escrita serão levadas em consideração as questões quantitativas, ou seja, o número de linhas, quantos segmento escritos, quantidade de letras, ordem da esquerda para a direita. Porém dentro deste processo várias dúvidas podem surgir, o que levará a criança a problematizar questões que para ela ainda não fazem sentido.
Desta forma, com as análises de Ferreiro, é possível notar que a escrita e a leitura da criança precisam ser levada em consideração em todos os níveis, pois na verdade, a criança está fazendo uso de diferentes lógicas para construir seu conhecimento. Assim, cabe a nós professores, levarmos em consideração os diversos processos, valorizando também a realidade da criança e possibilitando a esta um espaço livre de preconceitos contra sua forma de enxergar o processo de escrita e leitura. Além disso, caberá a nós a consciêntização de que o erro neste processo é um instrumento de auxílio para este desenvolvimento cognitivo.