terça-feira, 30 de junho de 2009

Exercício Reflexivo

Esta postagem tem como objetivo apresentar as respostas das perguntas feitas pelo professor no dia 12 de maio de 2009, onde o intuito era possibilitar a turma uma reflexão acerca da “oralidade e escrita”.
Segundo os autores Fávero, Andrade e Aquino, a atividade conversacional diz respeito a uma ação que se dá através da língua falada quando duas ou mais pessoas estão reunidas e, gradativamente, se alternam em turnos ao relatarem fatos do cotidiano, caracterizando o encontro em simétrico, ou seja, quando todos os participantes tem o mesmo direito de falar ou escolher o assunto a ser debatido, direcionado, desta forma, a conversa e estabelecendo o tempo para tal; e assimétrico, onde ocorreria um privilégio a um interlocutor que além de escolher o assunto também poderá direcioná-lo ou encerrá-lo, o que não significa que outras pessoas não possam intervir na conversa.
Ventola (1979), apresenta um modelo para a organização da conversa, que assim como explicitado é apenas um modelo, um exemplo de como a conversação pode se dar. Sendo assim teremos o tópico ou assunto (ponto central de uma conversa entre os interlocutores); tipo de situação (ocasião em que os interlocutores se deparam para uma conversa no qual, dependendo do que está sendo dito, torna-se necessário também observar as manifestações e gestos da pessoa com quem se fala para que se tenha a total compreensão do assunto.); papéis dos participantes, pois toda conversa tem seu tempo, (seriam as auterações dos turnos, o papel de cada um na conversa [dominador, democrático, etc.]); modo ( o grau de formalidade ou informalidade com o qual os interlocutores se colocam na conversa) e meio do discurso ( o canal utilizada para a comunicação – telefone, internet, face a face etc.).
Outra questão ressaltada diz respeito aos estudos de Dittmann (1979), que entende que para haver diálogo é preciso que haja a particiapação de pelo menos dois interlocutores (interação ou socialização entre os participantes, o que não impossibilita que discordâncias ocorram). Para ele, mais do que isso, “o texto conversacional é criação coletiva e se produz não só interacionalmente, mas também de forma organizada”. Assim, é preciso que a participação e interação, que só serão possível via conhecimentos, apropriações e intimidade acerca dos participantes da conversa, se desenvolva assimetricamente. Além disso, enfatiza a necessidade da ocorrência de pelo menos uma troca de falantes (a troca de turnos entre os interlocutores possibilita, consequentemente, uma troca de idéias); a presença de uma sequência de ações coordenadas (Comunicação em si, onde cada fala complementaria o diálogo mantendo uma coerência); a execução num determinado tempo (a duração em si do assunto, dependendo do grau de familiaridade entre os interlocutores); e o envolvimento numa interação centrada (o que seria o foco assunto).
O texto também nos apresenta a questão dos níveis de estruturação do texto falado, que se dividem em nível local, que consiste em uma conversação que ora se dá por um interlocutor e ora se dá por outro. Enquanto um deles desenvolve sua fala o outro pode vir a interferir de várias maneiras podendo haver momentos de hesitação, sobreposição e assalto ao falar um do outro; e o nível global que seria como se o universo da conversa fosse se ampliando gradativamente conforme os turnos fossem sendo utilizados, o que nos remete as digressões que seriam os desvios de assunto, que posteriormente seriam "esquecidas" e possibilitaria-se a volta ao assunto anterior.
Contudo, tanto o texto escrito quanto o falado necessitam de fatores de coesão e coerência para serem construídos.
A Coesão materializa e faz uma ligação com tudo que for falado. É o mecanismo que dá sequencia, continuidade ao texto. Vejamos os estudos de Fávero (1992, 1999) que se refere aos recursos mais utilizados no que diz respeito a coesão referencial, recorrencial ou sequencial.
Vejamos a coesão referencial. Esta diz respeito a repetição que se refere a alguém ou alguma coisa, também podendo visar dar acesso ao turno, ou seja, literalmente uma continuidade da fala. Já a coesão recorrencial está ligada a repetição de uma mesma frase, e a coesão sequencial diz respeito aos conectores (e, mas, ah...) que possibilitam a continuidade ou o assalto do turno.
No entanto, os textos falados e escritos também necessitam da coerência, ou seja, de um sentido coerênte para a conversa. Ela seria a emergencia de sentido que os interlocutores utilizam para construção da textualidade. Contudo, os segmentos do texto não precisam está conectados, pois a propriedade é daqueles que interagem na conversa, já que o texto não “ganha vida sozinho”. Desta forma, é um mecanismo de troca, de interação mútua, e é por isso , que para que haja entendimento, é preciso que os interlocutores sejam coerêntes em suas falas.
Assim, por a “conversação ser de natureza diferente”, como enfatizado por Fávero, esta precisa ser construída coletivamente o que nos remete a observação de que coerência e coesão de textos escritos e falados devem se dar de modo distinto.
No texto conversacional há a evidencia de quatro elementos básicos para a organização do mesmo: turno, tópico discursivo, marcadores conversacionais e o par sdjacente.
Os turnos seriam os momentos em que um interlocutor está expressando suas idéias, incluindo possibilidade de silêncio. “Em qualquer turno, fala um de cada vez” (p.36), porém pode haver exceções, pois há casos em que um interlocutor pode interromper o outro sem que este tenha terminado seu turno, o que seriam de acordo com Sacks, Schegloff & Jefferson, a ocorrencia de mais de um falante por vez. Além desta propriedade intrínseca nos turnos, os autores ainda apresentam a existencia de uma continuidade, uma seqüência. Para isso é preciso que idéias sejam trocadas entre os participantes, contudo falar um de cada vez é primordial para o entendimento e a coerência dos discussos, deixando claro a presençça das sobreposições de falas citada acima.

Outra questão diz respeito a contínuidade ou descontínuidade da fala, onde dificilmente haverão longas pausas ou sobreposições extensas, pois comumente as falas são breves e diretas, sempre proporcionando uma seqüência lógica do assunto, possibilitando a todos, mesmo aqueles que não fazem parte diretamente da conversa, a compreençao do que se fala, além dos mecanismos de retomada de turnos, onde após uma breve troca de assunto, o retorno ao tópico inicial é normal..
Outro ponto ressaltado relacionada aos turnos é a dificuldade de se prever o tempo de duração de uma conversa, que pode ser curto ou longo dependendo de diversas variáveis, como se as pessoas se conhecem, se há um conhecimento prévio sobre o assunto, etc. O mesmo ocorre como as falas, cada pessoa elabora seu discurso de forma distinta, expressando turnos de única palavra, em sintagma ou sentenças etc. Os autores ainda reforçam que a quantidade de pessoas é ilimitada .
Quando falamos em Tópico discursivo, estamos falando em foco, ou seja, o assunto a ser debatido, a estrutura da conversa. Para isto é preciso se estabelecer em um dado contexto a presença de dois ou mais interlocutores. Nem sempre este tópico está explicito e compreensível a todos, já que pode ser penas um pressuposto. Assim, torna-se necessário um contexto situacional.
O Tópico discursivo tem como propriedades a centração, que seria o contexto, o foco do discurso em si; a organicidade que daria seqüência e a sistematização da conversa; e a delimitação, onde se apresentaria as características da conversa (começo, meio e fim, embora isto nem sempre fique evidente). Vale ressaltar que as marcas dessa delimitação podem ser marcadores conversacionais (elementos que verbalizam a conversa [é, né, uh...])e elementos prosódicos (elementos que demarcam o foco [limitação]).
Outro elemento básico para a organização da atividade conversacional são os marcadores conversacionais que, na verdade, são as marcas que podem se apresentar em recursos prosódicos (de natureza lingüística, porém não verbal [Ex: tom de voz, pausas alongamentos …]), não-lingüísticos (fundamental para interação face a face [Ex: um olhar pode dizer mais que mil palavras]) e verbais que possibilitam uma interação maior com a fala (uhn, viu, sabe?, né, então, etc.) Este último, de acordo com Marcuschi (1987), pode se classificar em: marcador simples (ocorre com uma só palavras); marcador composto (possui um caráter sintagmático [Sendo assim, Assim, Quer dizer...]); marcador oracional (pequenas orações que se apresentam em diversos tempos e modos oracionais [assetivo, indagativo, exclamativo]) e marcador prosódico (ligado a além marcador verbal, porém utilizando recursos prosódicos [pausas, entonação...]).
Por fim, temos o par adjacente que seria uma “dobradinha” necessária para qualquer conversação (pergunta/resposta, pedido/concordância ou recusa, convite/ aceitação ou recusa, etc). Ou seja, seria a organização da conversa. Além disso, o par adjacente pode estabelecer tópicos para a elaboração e funcionalidade da conversa, são eles:
Introdução de tópico: início da conversação, que pode se dar em forma de pegunta, que também será utilizada para introdução de um novo supertópico.
Continuidade de tópico: Perguntas e respostas utilizadas para adquirir mais informações sobre o assunto.
Redirecionamento do tópico: uma forma de retomar a um tópico que se perdeu durante uma conversa.
Mudança de tópico: Deviso ao esgotamento e/ou desinteresse. Mudança de tópico.

OBS: Segundo Fávero, “par adjacente e tópico discursivo estão intimamente relacionados na medida em que a conversação se organiza por meio de tópicos e estes podem se estabelecer através de pares adjacentes”. (p. 50)
Texto: FÁVERO, Leonor L. ANDRADE, Maria Lúcia C. V. AQUINO, Zilda G. O. Oralidade e escrita: perspectivas para o ensino de língua materna. 6. Ed., São Paulo: Cortez, 2007.

2 comentários:

  1. Gostei do seu blog, esatarei retornando para ler as postagens.Espero uma visita sua lá no meu cantinho.Um abraço e a paz!

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  2. Rafaela, o texto ficou muito bom! Mais uma vez, parabéns! Você conseguiu articular de forma muito coerente as respostas que foram dadas no Exercício Reflexivo.

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